Ainda eram jovens e inseguros quando encontraram um ao outro, e agora não sabem mais distinguir quem é um e quem é outro. São os dois uma coisa só, mas não vão ser pra sempre e lá na frente vão ter que se dar contar de que continuam como sempre foram, porque não souberam ser um para o outro, foram um o outro e acabaram fortalecendo alguém que não existe. E continuam inseguros, continuam imaturos... e cada dia mais, sozinhos.
Desapropriado
Apropriado é apropriar-se da própria arte.
Nada
Só queria comprar uma passagem, mas não vejo nenhum lugar que me trará o que eu preciso. Só queria um pouco de paz. Seja uma passagem pro paraíso ou pro inferno. Só não aguento mais ver a cara dessas mesmas pessoas, seguindo nessa rotina pra me tornar alguém, mas que, no final das contas, não leva a canto nenhum.
E eu aqui, prostituido e frustrado, talvez um pouco decepcionado por ser o que sou, ou não ser. Sem criatividade pra uma foto, um video, um desenho, um texto. Sem inspiração pra um riso, uma paixão ou algo que o valha. Tentando catar no ar um motivo para fazer, simplesmente fazer. Tentando criar do nada uma saída que explique toda essa minha movimentação, mas até agora nada. Minha cabeça de tão preenchida se tornou um grande vazio.
Vide o verso
viva o verde
vide o verso
vire o verbo
verbo oculto
verso mudo
vide o mundo
verde mundo
verde mudo
verde mudo
Fotógrafos e Poetas
Existem duas formas de tornar uma foto eterna: Ela pode ser documental ou artística. Na foto documental o que fica marcado é o momento. Na foto artística o que fica marcado é o todo: contexto, autor, obra...
Nem todo escritor é poeta, nem todo fotografo também é. Existem aqueles jornalistas, os que põem a informação em primeiro lugar e, sem dar nenhuma brecha, passam a informação a diante com tremenda precisão. Ao mesmo tempo existem os poetas, que sugerem e trabalham nos implícitos, e se dão por completo às interferências, sugestões e interpretações alheias.
De mesmo modo caminha a fotografia. Com sua função de registro os foto-jornalistas não dão espaço para interpretação. Mostram o que é e como é. Já os fotógrafos-poetas, não. Eles trabalham nos implícitos.
Os artistas sempre trabalham nas sombras. Nenhum artista "é". Os implícitos poéticos são as sombras das fotos. Nesses espaços existe apenas o vago, a possibilidade, e é nessa possibilidade que pode surgir qualquer coisa. As luzes apenas sugerem, enquanto as sombras abrem espaço para qualquer possibilidade de interpretação.
É nesse ponto que se diferenciam os fotógrafos-poetas dos demais. Eles apenas sugerem o que pode ser a foto, e o leitor se vê maravilhado pela beleza do infinito de possibilidades que aquilo lhe proporciona.
A sombra é algo mágico. É o relevo, a textura, o vazio, o implícito, oculto... Quando os fotógrafos perceberem que não é a luz que eles querem, e sim a sombra, eles se tornaram não só fotógrafos, mas também poetas. Porque a luz só se percebe na escuridão.
Ócio
As pessoas não me entendem. Eu digo que não tenho tempo. Elas perguntam o que estou fazendo. Eu respondo: Nada.
A cada dia eu tenho menos tempo de não fazer nada, mas é no nada que eu produzo o meu tudo. É no "nada" que eu ponho minha cabeça para funcionar, e minhas ideias se movimentam. Sem o nada eu nada seria. Sem o nada, nada criaria. Porque quem se ocupa com tarefas não tem tempo para produzir, só para cumprir. E essa vida, sem dúvida, eu não quero para mim.
Vou continuar fazendo o que eu sei fazer de melhor: Criar. E se eu precisar largar tudo para fazer o meu nada, eu farei, porque Nada é mais importante que tudo que pode haver.
O mundo não precisa de mais operários. Não precisa de milhões de estudantes fixados e que, com seu ar de superioridade, se acham sábios por terem lido milhares de livros e autores desconhecidos. O mundo precisa de gente que produza, que mude, que saia do senso comum. O mundo não é dos inteligentes, é dos criativos.
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